Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós
Vivenciar a maternidade-paternidade divina em meio as crises de orfandade humanitária é um grande desafio para humanidade. Exemplos mundiais como a guerra civil somaliana, o genocídio ruandes, a guerra síria, a guerra iemenita, as políticas norte americana e européia, as omissões e contradições da ONU, as tensões nucleares da Coréia do Norte e do Irão, a agenda extremista islâmica de domínio mundial sustentada pela Arábia Saudita, as ditaduras comunistas e o imperialismo capitalista, são apenas alguns exemplos das crises humanitárias produzidas.
Quem vive no olho do furacão destas crises se questionam: “Onde está Deus? Ele é indiferente a tudo isso? Onde está sua força, seus milagres e prodigios?
Talvez que já tenha assistido uma pessoa morrer de fome ou ser executada simplesmente por causa de sua etnia, entenderá melhor o contexto destes questionamentos.
No Brasil, depois de muitas décadas assistimos um crescimento desenfreado da violência, associada à falta de políticas públicas no contexto da urbanização, onde gerações foram tomadas pelas drogas e assim, o crime organizado assumiu o lugar do Estado, num país que chamamos de pacífico, mas que na verdade é dominado por guerrilhas nas favelas e em Brasília. As recentes decapitações nos presídios brasileiros não perdem em nada em degradação humana daquelas perpetradas pelo Estado Islâmico.
Hoje pela manhã, escutei as rádios internacionais, e como de costume citam o Brasil quando se fala de futebol e de corrupção. Confesso que é duro escutar em inglês, francês e até mesmo em somali, tudo o que se passa no Brasil. O verdadeiro crime organizado é sustentado pelos poderes da República.
Esta orfandade produzida prejudica em primeiro lugar as populações tradicionais, os povos indígenas, que diante do poder econômico bem representado pelo agronegócio que sustenta o modelo econômico adotado pelo país, minguam num caminho de destruição sem retorno, onde nem o sangue dos Mártires da Caminhada conseguem impedir os Belos Monstros destruídores da vida, da nossa maior riqueza, nossa biodiversidade com seus povos e culturas. Todos os cuidados dispensado nestes 12 000 anos sangram agora em algumas décadas de destruição.
O Brasil se mostra agora indignado com as revelações de corrupção, pois tanto a direita como a esquerda encontram-se na lógica do poder a todo custo, e para manter o poder esquecem-se ideologias partidárias e os movimentos que puxaram manifestações, sejam as recentes ou as de décadas atrás, alimentam a desesperança, que na verdade revelam a tese da “corrupção cultural”. O primeiro passo para cura dessa doença é o reconhecimento da mesma. Se hoje ela está em Brasília e mesmo no Supremo, é porque ela foi alimentada em nossos lares, em nossas micro-associações. A cultura do dinheiro fácil é a desgraça da nação.
Nossa vocação, como cristãos, é dar razão a nossa esperança e se unir para a construção do Reino, conscientes que o céu nos espera, mas tambem que o mesmo deve começar a ser vicenciado no tempo presente. A experiência da Páscoa exige de nós um ressurreição pessoal que nos levará a uma revolução social-comunitária.
Filipe, Pedro e João anunciaram aos samaritanos o Dom do Espírito Santo, Pai dos Pobres, o mesmo Espírito que Jesus nos promete no Evangelho de hoje para curar nossa orfandade.
Não desejo aqui trazer soluções políticas para as crises mundiais e nacional, simplesmente lanço um apelo aos cristãos para que assumam sua vocação à santidade em Cristo e que parem de associar direita política com tradição cristã e esquerda política com movimentos comunistas, mesmo se as associações são livres para cada pessoa, não deixemos este jogo desunir e assim, em vez de criar cidadãos transformadores tem formado torcidas organizadas, alienadas e violentas. O inimigo é comum, ele se chama a a “velha política do apadrinhamento”, é assim no Purus, é assim no Sudeste, é assim em Brasília. Não podemos nos esquecer que os que mais ganharam como toda esta indústria de corrupção são as empresas e companhias privadas, que sempre ditaram os votos e construíram leis através dos seus políticos de estimação. Este quartel comprou direita e esquerda e vao sair ilesos, talvez pagar algumas multas que não são nada diante dos desastres produzidos.
“Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo”
Que bom seria se neste momento as comunidades cristãs se unissem para dar uma resposta, sem fundamentalismo, e assim, em união com os bispos do Brasil formar uma voz comum, sem a divisão antiga e infecunda: ser sal da terra e luz do mundo, eis a nosss vocação neste momento de trevas vivido pela sociedade brasileira. Neste momento não precisamos nem de camisa vermelha, nem de camisa da CBF, precisamos ser revestidos da Santidade de Cristo para assim, ajudá-lo a ser o Bom Pastor próximo aos pobres que são mas primeiras vítimas da corrupção. Vinde Pai do Pobres, doador dos dons!
Por pe. Éder Carvalho Assunção. Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]