Em um território marcado por desigualdades históricas e negligência do poder público, as oficinas de Comunicação Popular realizadas nas comunidades de Belo Monte e Foz do Tapauá, distrito de Canutama (AM), emergem como respostas políticas e estratégicas para amplificar as vozes de populações indígenas, ribeirinhas e mulheres.
Organizadas pela Cáritas Brasileira e Cáritas Cuxiura – Prelazia de Lábrea, em parceria com a CAFOD e a Start Network, essas formações ensinaram ferramentas de comunicação, mas também incitaram o questionamento das estruturas que perpetuam a exclusão social e ambiental desses grupos.
No dia 13 de novembro, jovens indígenas e ribeirinhos de Belo Monte foram capacitados para usar a comunicação como instrumento de resistência frente às ameaças crescentes à Amazônia – da exploração predatória de recursos ao avanço de políticas que negligenciam os direitos das comunidades tradicionais. A comunicação foi apresentada como um meio para narrar suas próprias histórias, denunciar violações e exigir direitos.
Já no dia 14, em Foz do Tapauá, o protagonismo foi das mulheres, frequentemente invisibilizadas em decisões políticas e sociais. A oficina não apenas destacou a importância de suas histórias, mas também abordou a economia solidária como um projeto possível para o desenvolvimento sustentável de suas comunidades. Para essas mulheres, a comunicação tornou-se uma ferramenta de empoderamento e mobilização, um espaço para denunciar a ausência de suporte governamental em áreas como saneamento, saúde e educação e para propor soluções coletivas que fortaleçam sua autonomia.
As formações evidenciaram a urgência de uma gestão de riscos climáticos e sociais que dialogue com as populações locais, valorizando seus saberes e práticas. Essas oficinas provocaram também uma reflexão profunda sobre o lugar do ser humano no cuidado da Terra e no respeito à dignidade humana. Como diz o Papa Francisco “o cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros» (LS, 70). Ao capacitá-las, as oficinas colocam em pauta a necessidade de um modelo de desenvolvimento que reconheça os povos amazônicos como protagonistas e construtores de suas próprias narrativas.
Essas ações reafirmam a Amazônia como um território de luta e resistência, em que mulheres, jovens e ribeirinhos assumem o protagonismo na construção de alternativas para um mundo mais justo, inclusivo e sustentável. São atos de fé na força transformadora do diálogo, da solidariedade e do cuidado mútuo, reconhecendo que somos parte de um todo maior, onde o bem-estar de cada um reflete o bem-estar de todos.