O esvaziamento de Jesus em sua Paixão escandaliza

‘Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti,
manso e montado num jumento,
num jumentinho, num potro de jumenta.’

Nem sempre é fácil descrever o que significa a Semana Santa na história da Salvação. Catequeses e doutrinas já foram transmitidas e encontram-se ao nosso alcance.  O desafio é sustentar um eterno querigma que tranforme a Semana Santa em uma verdadeira atualização do Mistério da Salvação na vida de cada pessoa humana e consequentemente nos cosmos que nos abraça.

Desafie-se e lance-se nesta utopia, “nesta beleza sempre antiga e sempre nova”, como dizia Agostinho. Antes de participar das liturgias,  vivencie a leitura orante da Palavra, para assim participar das mesmas de maneira “ativa, consciente e frutuosa”. Em cada comunhão assuma uma missão e atualize nos serviço da caridade o Mistério celebrado com devoção.

Neste Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, encontramos um duplo sentimento que revela as incongruências da humanidade: acolhida e rejeição.

‘Hosana ao Filho de Davi!
Bendito o que vem em nome do Senhor!
Hosana no mais alto dos céus!’

O povo de Israel guardava um sonho no coração,  desejava tocar o Messias que viria com glória e poder para instalar a paz e acabar com as injustiças. Jesus em sua pregação semeou algo diferente e em seus milagres despertou as utopias e por isso foi acolhido como rei, mesmo montado sobre um animal dos pobres.

O Senhor abriu-me os ouvidos;
não lhe resisti nem voltei atrás.

Esta entrada triunfal foi interpretada de duas maneiras: primeiramente como cumprimento do sonho triunfalista e próspero de Israel,  e segundo, como cumprimento da vontade do Pai. O que se viu é que as pessoas não estavam preparadas para a segunda e por isso, os mesmos que gritaram “Hosana” também gritaram, com mais força “Crucifica-o”.

Transpassaram minhas mãos e os meus pés
e eu posso contar todos os meus ossos.*

Um Deus chagado não cabia nesta Teologia da Prosperidade guardada na cabeça de Israel e nem na cabeça de muitos cristãos hoje,  que nas crises entram em “crise fe fé”, pois para estes crer significa prosperar, ganhar  e ser imbatível,  basta ver como as pessoas utilizam e interpretam o salmo 90.

Jesus Cristo, existindo em condição divina,
não fez do ser igual a Deus uma usurpação,
mas ele esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo
e tornando-se igual aos homens.
Encontrado com aspecto humano,
humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.

O esvaziamento de Jesus em sua Paixão escandaliza e afasta àqueles que passam suas vidas em liturgias gloriosas e pomposas, em sessões de curas e de vitórias e ignoram a presença do Cristo Esvaziado em seus crucificados de hoje, naqueles que são símbolos da não realização do Sacramento do Amor.

Não existe Semana Santa sem uma “quotidianidade” com os pobres,  não existe Via Sacra sem o “ajoelhar-se” diário na simplicidade do serviço da caridade.

‘O que me dareis se vos entregar Jesus?’
Combinaram, então, trinta moedas de prata.

Neste relato da Paixão encontramos a negação de Judas, tão presente hoje, quando vendemos o Cristo por algumas moedas do Ter, do Poder e do Prazer. Vender o Cristo hoje é viver a fé de maneira medíocre,  onde a liturgia se torna um tédio e a missão um fardo. Vender o Cristo é negar a vocação,  estancar a enxurrada de bondade que pode jorrar do coração de cada pessoa que vive sua fé como algo essencial e não com assessório,  ou pior,  objeto de decoração.

‘Minha alma está triste até á morte.
Ficai aqui e vigiai comigo!’

Imagine a quantidade de pessoas que hoje estão com a alma “triste até a morte” porque o batizados esqueceram de vigiar no amor e na compaixão.  Nesta semana multiplicam-se a “Paixões encenadas” que arracam lágrimas de milhões enquanto a paixão de muitos que morrem a míngua não merecerem nem ibope e nem lágrimas da grande maioria dos cristãos.

Judas, logo se aproximou de Jesus, dizendo:
‘Salve, Mestre!’ E beijou-o.

Aqui uma cena forte onde ouso comparar com a nossa comunhão eucarística.  Quantas vezes beijamos o Cristo na Eucaristia com lábios de traição?  Fingimos ama’-lo mas o negamos no testemunho.  Judas é atualizado nas comunhões indignas,  nas incoerências e nas omissões.

Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito:
‘Eli, Eli, lamá sabactâni?’,
que quer dizer: ‘Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?’

Este grito do Cristo deve ressoar nesta semana no coração daqueles que O buscam em espírito e verdade. Não abandonemos os pobres. Não esqueçamos a escoha do Cristo. No serviço Daquele que grita nos pobres encontraremos o verdadeiro sentido desta Semana que se inicia.

Por pe. Éder Carvalho Assunção.  Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]

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