O discipulado missionário não pode se resumido em devoções infecundas

Radicalidade ou Teologia da Prosperidade

Parece que a “teologia da prosperidade” está em alta no cristianismo. O marketing religioso, baseado nos fenômenos mirabolantes e na ausência de identidade moral, é um prato cheio para uma sociedade fragmentada formada por pessoas imaturas que buscam os “mimos espirituais” para assim compensar as tragédias existenciais.

Jesus no evangelho de hoje nos chama a radicalidade. O capítulo 6 de São João revela a identidade de Jesus e nela, a identidade dos discípulos. Enquanto a teologia da prosperidade promete a “multiplicação dos pães do bem estar” a teologia de Jesus de Nazaré radicaliza a “teologia do bem viver”, enquanto a primeira instrumentaliza o sagrado e faz dele uma “fonte de doações para o bem estar individual”, a segunda nos ensina a “abrir mão de bem estar pessoal para construir o bem viver universal”.

Multiplicação ou Vida em Doação

Onde estão os milhares que se alimentaram na “multiplicação dos pães”? Desapareceram. Pois, quando Jesus os convidou a radicalidade eles afirmaram que “sua palavra é dura de mais”. Assim, acontece com os milhares de peregrinos cristãos que buscam a “multiplicação” mas se negam em viver em doação.

Somente um pequeno grupo restou com Jesus. A multidão o abandonou. Hoje os marqueteiros cristãos e os midiáticos acham que evangelizam quando reúnem 3 milhões de pessoas para um evento religioso, enquanto Nosso Senhor nos ensina a trabalhar no silêncio e na simplicidade. As massas nada mais são do que massas. O encontro pessoal, a proposta personalizada, o trabalho com pequenos grupos, revelam a maneira de evangelizar de Jesus de Nazaré.

O perigo dos “jargões espiritualizados”

Em nossas comunidades dominicais milhares de pessoas se aproximam da Santa Eucaristia, mas durante o dia-a-dia pastoral de nossas comunidades os mesmos comungantes se omitem no serviço da caridade. Como a sociedade seria diferente se aqueles que comungam dessem um testemunho cristão de radicalidade e amor ao Reino.

Todos os dias escutamos: “Deus no comando, Jesus está no controle, Nossa Senhora passa na frente”… porém, nem sempre a vida daqueles que utilizam “jargões espiritualizados” revela aquilo que  se balbucia. Este é o perigo da religião da prosperidade que buscam os “milagres como produtos” e se omitem quando Deus os convida a ser “um milagre de caridade na vida do outro”.

Discipulado Missionário e Experiência de Deus

O discipulado missionário não pode se resumido em devoções infecundas, ele exige compromisso e verdade. Josué nos ensina: eu e minha casa serviremos ao Senhor. Muitas famílias rezam o rosário mas se esquecem das “contas da caridade”… é por isso que muitos corruptos saíram de “famílias cristãs” apegadas a devoção individual e não comprometidas com a Missão Universal de levar vida e dignidade em Cristo a todos os povos. O “Ser família missionária” exige: entrega, amor esponsal (como ouvimos na segunda leitura), oração, disciplina, testemunho de caridade e engajamento social.

O marketing não substitui o testemunho silencioso pois a fé não é produto. A devoção individual não substitui o engajamento missionário. Cristãos de marketing e de devoção individual só prestam para engordar as pesquisas do IBGE. Católicos e protestantes “curandeiros e prósperos” mercantilizam a mensagem do Evangelho e são “dignos de pena”. A experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo não pode ser resumida na “multiplicação”  como moeda de troca. Ela será verdadeira quando for vivenciada no amor gratuito… como dizia Madre Teresa no “amor sem explicação”.

Por Pe. Éder Carvalho Assunção – Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]

Leitura Orante: Jo 6,60-69 / Js 24,1-2a.17-17.18b / Sl 33 / Ef 5,21-32

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