Maria do Monte Carmelo

Entre as devoções do nome de Maria, a Mãe do Senhor, chama-me à atenção a do Monte Carmelo, cuja festa celebramos a 16 de julho, pelo seu sentido estritamente bíblico. Remonta ao Profeta Elias que venceu a incredulidade e as investidas de infidelidade do povo de Israel, quando o rei Acab casou-se com a infiel rainha Jazabel, pagã de Baal, violenta e corrupta. (cf. I Reis, 18, 40 ss) Perseguido porque anunciou a terrível seca que assolaria Israel, por castigo divino, Elias se encontra sozinho, mas enfrenta a tudo e a todos para proclamar que somente Deus é o Senhor.

Depois de vencer os profetas de Baal, Elias encontra Acab e lhe anuncia que Deus haveria, agora, de mandar abundante chuva. Sobe ao monte Carmelo, põe-se em oração e avista, afinal, uma nuvem que se levanta no mar, pequena como a palma da mão, mas que depois vai se tornando grande e espessa, por fim traduzida numa enorme chuva que fecunda os terrenos de Israel. São vencidas a fome, a miséria e a morte de pessoas e animais.

Elias viveu no monte Carmelo, habitou numa gruta que transformou em casa de oração. Mais tarde terá que fugir novamente da perseguição de Jezabel e outra vez se recolherá numa gruta de oração no monte Hobeb.

Após a vinda do Messias, nascido na gruta de Belém, a pequena nuvem que se levantou no mar Mediterrâneo foi comparada pela Igreja a Maria, rainha santa, justa e pacífica, de quem veio a chuva da salvação, profetizada por Isaías quando disse “Chovam as nuvens o Justo” (Is.45,8).

No correr dos anos medievais, jovens impulsionados pelo amor a Deus, desejaram beber das fontes da espiritualidade de Elias. Subiram também eles ao monte Carmelo e ali viveram vida eremítica, dando origem a uma enorme corrente de espiritualidade mariana, onde a Palavra de Deus se torna fonte de oração, de caridade e missão, hoje conhecida por família carmelitana. No século XII são acolhidos pelo Patriarca de Jerusalém e no século XIII se estruturam melhor, depois que, por perseguição islâmica, são abrigados a deixar a Palestina e viverem na Europa.

A experiência cresce a partir do trabalho, da vida de eloqüente de santidade e das experiências místicas do monge Simão Stock, que recebeu de Nossa Senhora o escapulário. Stock fundou vários Carmelos, sobretudo nas cidades universitárias de então: Paris, Bologna, Cambridge e Oxford.

A devoção a Maria, não só com o título carmelitano, é sempre atual, pois não é outra coisa senão a vivência profunda do amor de Deus que se revela nas Escrituras e de mil maneiras se propaga pela história. Ela é modelo do discípulo missionário que vive da Palavra de Deus, se fortifica, dia a dia, por meio da oração e, qual Profeta Elias, não se cansa de lutar contra as forças do mal.

O Documento de Aparecida, lançado no ano passado, chama à atenção para que cada um, à semelhança de Maria, se torne verdadeiro discípulo missionário neste mundo que precisa ser re-evangelizado. Segundo o Documento, Maria é o modelo mais acabado de discipulado: Em Maria, a santidade se realiza na sua aceitação fiel ao plano do Pai, e, como conseqüência na entrega à ação do Espírito e na união perfeita com Deus Filho, Jesus Cristo. O discípulo e missionário se santificarão na medida em que aceitarem conscientemente o plano de Deus, se unindo a Cristo em tudo.

Ao celebrar a festa do Carmo, sobretudo nos silenciosos claustros carmelitas, é útil recordar que Maria é modelo dos silêncios eloqüentes da Bíblia. Os evangelhos não falam muito sobre Maria, mas dizem o essencial para se saber que ela é ‘bendita entre todas as mulheres’. Precisaria algo mais para conhecer a estatura espiritual desta Mulher e seu lugar único na história da Salvação? Sobre ela, uma mulher, certo dia, encantada com a pregação de Cristo, exclamou: Feliz o ventre que te trouxe e os peitos que te amamentaram (Lc.11,27).

O silêncio de Maria tem uma finalidade missionária: fazer ressaltar a pessoa de Cristo. Na Bíblia, como nas peças musicais, o silêncio faz parte integrante da mensagem. Como na música o silêncio não é música, mas faz parte indispensável na sua expressão, Maria não é deusa, mas faz parte intrínseca do plano salvífico de Deus.

Diz Gabriel de Santa Madalena: “Quem aspira imitar Maria há de ter ânsia de ocultar-se à sombra de Deus, convicto de que se lhe foi concedido fazer alguma coisa boa, foi dom divino e deve reverter em proveito do bem comum e da glória do Altíssimo”.

Eis o modelo para quem deseja alcançar ‘altura’ no amor a Deus e no serviço ao próximo, como bem expressa a oração da missa na festa litúrgica carmelitana: Venha, ó Deus, em nosso auxílio a gloriosa intercessão de Nossa Senhora do Carmo, para que possamos , sob a sua proteção, subir o monte que é Cristo.

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