Deus se fez “gente” e fez da família o lugar “da gente”

A Celebração da Sagrada Família na Oitava do Natal plenifica o coração daqueles que são capazes de contemplar a beleza de Deus no silêncio na simplicidade da vida de uma família humana.

Em Belém o “parto dos partos” e em Nazaré o “silêncio dos silêncios”. Em Nazaré encontramos a escola do Evangelho, como dizia Paulo VI. Encontramos na simplicidade uma lição de silêncio, uma lição de vida familiar e uma lição de trabalho.

Em Jesus de Nazaré encontramos a plenitude da Divindade e a plenitude da Humanidade. Não sabemos absolutamente nada do que se passou durante os 18 anos da chamada vida oculta de Jesus, onde ele se fez apenas filho de Maria e de José, o carpinteiro.

Por mais que a família hoje passe por momentos difíceis, onde a mesma é bombardeada por conta-valores, ela sempre será uma instituição sagrada, pois Deus está em sua origem. Foi numa família que Ele escolher se encarnar e salvar a humanidade. É desejo Dele. Portanto, devemos acolher com gratuidade a vocação que toda pessoa humana traz em si: ser família.

Que bom seria se em nosso lar encontrássemos sempre o espaço da oração, do diálogo, da partilha e do testemunho sacramental.

Portanto reze em família com os textos da liturgia deste domingo e com o Plano Pastoral de nossa Prelazia que dedica uma atenção especial às Famílias do Purus:

Liturgia do Domingo: Gn15,1-6;21,1-3 / Sl104 / Hb11,8.11-12.17-19/ Lc2,22-40

Família

Fortalecer a Pastoral Familiar

  1. A família na tradição bíblica sempre foi o espaço da transmissão da fé, dos valores e das virtudes. Deus se fez família em Jesus na aldeia de Nazaré. O Deus Onipresente, Onisciente e Onipotente quis precisar de todos os cuidados de uma família humana. Em Nazaré, no silêncio da paternidade de José e da maternidade de Maria, Jesus passou a maior parte de sua vida terrena, inclusive, diga-se de passagem, a história não nos legou nada da maioria dos anos deste período.
  2. No Purus a família guarda valores e virtudes oriundos das tradições indígenas e nordestinas. A acolhida, a presença materna e paterna na lida das atividades do dia-a-dia: pesca, agricultura, extrativismo…enfim, a economia familiar gerou relações próximas expressas nas malocas e nos tapiris.
  3. O convívio fraterno, a pesca partilhada, a farinhada em mutirão, a caça dividida… são expressões das famílias que partilham o valores humanos e assim, dividem-se as alegrias e as dificuldades.
  4. Os festejos dos santos e as desobrigas revelam características familiares presentes nas Sagradas Escrituras como a hospitalidade, por exemplo.
  5. Não se deparar com moradores de ruas e crianças abandonadas nas sedes dos municípios da prelazia nos faz compreender que as famílias do Purus sempre tem um cantinho no tapiri pra armar mais uma rede, e um prato sempre a espera daquele que está para chegar.
  6. A diminuição da mortalidade infantil e o aumento de crianças alfabetizadas expressam que o cuidado com saúde e educação tem aumentado nas famílias da Prelazia, embora as políticas públicas existentes estejam aquém das necessidades.
  7. Famílias ribeirinhas, indígenas e urbanas, estruturadas e unidas na simplicidade colaboram na construção de um Purus mais fraterno e irmão. Sem dúvida nenhuma, a família; fundada nos valores dos “homens e mulheres de boa vontade”; é a protagonista neste ensaio social.

Estrutura familiar no Purus depois do séc.XIX e desafios pastorais

  1. 8.      Desde o final do Séc.XIX a família tradicional tem sido questionada e rotulada como instituição arcaica, autoritária, “traumatizadora” e considerada por alguns como desnecessária. Aqui no Purus, neste mesmo período, a família se constitui em meio ao êxodo nordestino e a destruição dos povos indígenas que tradicionalmente habitam a Amazônia há mais de 12 mil anos.
  2. Boa parte das famílias iniciou-se com os “juntamentos”, alguns felizes e sacramentados, outros infelizes e também sacramentados. Era muito comum os pais “darem” as filhas ou as mesmas “fugirem” com rapazes e até mesmo senhores, com apenas 12 ou 13 anos de idade. Depois, muitas gestações, muitos abortos naturais, muitas crianças perdidas com o “mal de criança”, enfim, muita estrada de seringa, muitas pesca, muita farinhada… mais nem sempre, convívio familiar satisfatório. O regime do aviamento – a escravidão legalizada – agravado com os “males do sertão amazônico”; paludismo, hanseníase, febre negra etc.; levantou um questionamento: como viver em família diante de tantos desafios? O estado de miséria levou muitos a perderem a tradição familiar proveniente do Nordeste e das tradições indígenas.
  3. Passados os cem anos, e ainda, é negada uma vida familiar saudável a uma boa parte da população. As pastorais sociais já perceberam que onde existe uma família estruturada o risco dos filhos se “perderem” é bem menor, mesmo quando “caem” conseguem se levantar, quando não se tem esta estrutura familiar “raramente se levantam”. Uniões não consensuais e inconstantes, crianças criadas por avós de maneira informal, irmãos de pais diferentes, paternidade não assumida, são os desafios para a nova conjuntura familiar de nossa prelazia. Aqui não emitimos juízo moral nem propomos soluções, porém, problematizamos algumas questões para ajudar na reflexão.
  4. Os adolescentes e jovens provenientes desta falta de estrutura familiar correm o risco enorme de caírem em mazelas sociais: alcoolismo, drogas, prostituição, criminalidade etc. É assustador o índice de infrações graves cometidas por menores, na linguagem dos maiores, crimes hediondos. A sociedade acredita que basta criminalizar o jovem e diminuir a idade penal.
  5. A vivência da sexualidade é outro desafio. A vida sexual inicia-se cada vez mais cedo, o número de adolescentes grávidas e maternidades-paternidades irresponsáveis aumenta cada vez mais, o índice de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) é alto mesmo com os programas de prevenção e informação. Outro fator que deve ser estudado é o índice de adolescentes e jovens homossexuais assumidos que passam por conflitos familiares, bulling e muitas vezes vítimas da homofobia.
  6. Entre os adultos o índice de separação é grande, inclusive entre aqueles que são casados na igreja e participam da vida eclesial. A sensibilidade pastoral nos leva a concluir que as mulheres são as que mais sofrem, principalmente aquelas que se juntaram na adolescência e passaram por várias gestações e aos trinta anos já se encontram cansadas, fisicamente envelhecidas, muitas vezes abandonadas e vivendo de programas sociais do governo em condições sub-humanas.
  7. Nas comunidades ribeirinhas e indígenas o alcoolismo tem tirado a paz de muitas famílias. A violência nestas geralmente é motivada por pessoas dependentes.
  8. As pessoas idosas sofrem com o abandono e o descaso da família. Hoje os que mais violentam as pessoas idosas são os próprios familiares que fazem empréstimos bancários com os benefícios dos mesmos, obrigando-os a diversas privações.
  9. Enfim, eis o desafio: que a Família seja a “estrada” que liga todas as “seringueiras forças-vivas pastorais” no grande Seringal do Reino.

 

 

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