Não olhes para a sua aparência
nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei.
Não julgo segundo os critérios do homem: o homem vê as
aparências, mas o Senhor olha o coração’
Vivemos num tempo onde o exibicionismo ultrapassa o limite, desumanizando e “superficionalisando” as relações, tirando uma excessiva atenção ao marketing pessoal em detrimento da memória cordial. Valoriza-se uma imagem a ser curtida e esquece-se o momento a ser guardado. Nas crises o coração busca a memória cordial e não as superficiais imagens que na maioria das vezes não expressam a realidade. As imagens apontam, porém não portam a totalidade daquilo que se retrata.
Neste sentido construímos nossa reflexão neste caminho quaresmal, onde fizemos as experiências de rasgar o coração, vencer a tentação, transfigurar e saciar-se no Cristo e agora, buscamos a cura de nossas cegueiras espirituais.
Enxergar com o coração não significa se perder num sentimentalismo que criam enchentes de lágrimas, mas basear-se na memória cordial que produzem águas fecundas, enquanto as primeiras deixam rastros de danos, as segundas criam jardins e pomares de doçura. Como Samuel, julgamos pelas aparências e por isso nem sempre fazemos boas escolhas. Pensemos em quantas injustiças praticamos em nossa história por causa as escolhas motivadas pelas aparências. Enxergar o coração exige, antes de tudo, saborear o tempo e conviver.
Para as águas repousantes me encaminha,*
e restaura as minhas forças.
Os encontros se tornam repousantes quando nos relacionamos com a verdade e traumatizantes quando nos perdemos nas falsidades das imagens. Como é difícil reconhecer que construímos projetos que até hoje são uma trama de marketing, de moralismo, do politicamente corrento, esquecendo assim, de ser feliz na aceitação de si e do outro na nudez da realidade que me ensinar a amar sem querer adulterar.
Cristo no altar da Cruz não tinha a imagem do deus pensado, o marketing falava de um deus poderoso, vencedor e por isso, foi abandonado no altar da Cruz. Assim hoje, muitos de nós não estamos preparados para a Cruz, pregamos um deus curandeiro, administrador, bruxo, pronto-socorro, fazedor de vontades, mimador e por isso, entramos em crise quando encontramos realidades naturais como doenças, mortes, tragédias etc. Vemos tudo isso como maldição pois o marketing da religião promete a prosperidade. Pessoas assim nunca repousarão, pois serão sempre insatisfeitas neste comercio religioso.
Não vos associeis às obras das trevas,
que não levam a nada; antes, desmascarai-as.
Desmascarar esta imagem é uma missão para todos nós, voltar a enxergar com os olhos de Jesus Cristo, na Encarnação Deus enxergar com olhos humanos para assim humanizar o nosso olhar. Tenhamos a audácia de desmascarar as obras das trevas que habitam em nós, façamos uma “faxina de sábado”, tirando tudo aquilo que está escondido debaixo dos nossos tapetes emocionais e no fundo de nossas gavetas existenciais.
‘Não é aquele que ficava pedindo esmola?’
Trilhando esse caminho deixaremos de mendigar amor e de dar o resto aos que mendigam amor em nossa volta. O encontro pessoal com Jesus Cristo cura a alma, alimenta o ser com ternura. As relações se tornam prazerosas e a falsa piedade perde seu espaço. Por quê mendigar amor quando podemo tê-lo em abundância? Por quê pedir uma oração por um problema quando na verdade eu sei como resolvê-lo? Por quê ser mendigo quando posso ser filho? Mudar o olhar é o primeiro passo para mudar de vida.
‘Tu nasceste todo em pecado e estás nos ensinando?’
Um dia, e pode ser hoje, terei a graça de testemunhar o que o Senhor fez por mim, pois mesmo nascido no pecado, fui renascido na graça do Espírito daquele que deu sua vida por mim no altar da Cruz.
‘Eu creio, Senhor’!
E prostrou-se diante de Jesus.
A nossa profissão de fé deve ser acompanhada de um ato de adoração, seja no ósculo da intimidade, seja na prostração que reconhece a fonte da bondade. Tire um momento neste domingo e no silêncio de sua capela interior, prostre-se diante do Senhor, ao tocar o solo sagrado, o mesmo usado por Jesus para curar o cego de nascença, sinta a Ternura que te abraça e te renova rumo à Pascoa definitiva.
Por pe. Éder Carvalho Assunção – Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]
Um leitura orante:
Leituras do Dia
1ª Leitura – 1Sm 16,1b.6-7.10-13a
Salmo – Sl 22,1-3a.3b-4.5.6 (R. 1)
2ª Leitura – Ef 5,8-14
Evangelho – Jo 9,1-41