“meu cansaço que a outros descansem”.

“Queridas crianças, que o Espírito Santo as consagre com este óleo, para que participem da Missão do Cristo, sacerdote, profeta e rei. Agora que vocês fazem parte do povo de Deus, sigam os passos de Jesus e permaneçam nele para sempre. Amém.”

Com estas palavras do rito complementar do Batismo – unção pós batismal – iniciamos nossa “leitura orante” da liturgia da Palavra deste domingo. Após estas palavras, o ministro unge em silêncio a cabeça de cada criança com o óleo do crisma. Assim, inciamos nossa missão de pastorear Naquele que nos pastoreia.

A consciência de pertença ao Povo de Deus nos cura do individualismo e da solidão. Não existe consciência de Povo sem comunidade. A ideia de “salvação individual” é inexistente, pois a salvação é fruto da experiência de um povo e não de indivíduos isolados.

É por isso que a primeira leitura fala ao coração daqueles que vivem o seu batismo na radicalidade. Precisamos fazer diariamente a experiência de sermos carregados nos ombros do Bom Pastor para entendermos a missão de Pastorear. Agora, podemos correr o risco de permanecer tranquilos na condição de ovelhas. Porém, nos esquecemos que a nossa vocação é cuidar e ser um reflexo do Bom Pastor neste tempo que se chama hoje.

Depois de alguns dias de convivência entre os nômades do Corno da África, eu percebi melhor a imagem do Bom Pastor. Num calor que ultrapassa os 55º, sem água e expostos as tempestades de areia, os pastores (crianças, jovens, adultos e idosos) velam incansavelmente por seus rebanhos, numa dedicação exclusiva. Cria-se uma ralação afetiva com o rebanho que oferece leite, carne, couro e transporte para com o pastor que oferece o caminho da hidratação, da alimentação e da segurança. No momento de sacrificar um animal para alimentação, existe um rito de “pedir licença” e assim, agradecer a Deus (cf. Sl22).

O Cristo nos aproximou da Graça(Cf. segunda leitura), ele o Cordeiro sem mancha se sacrificou por nós, pelo seu sangue temos a vida e por esta vida temos uma missão. Assim como os apóstolos retornaram felizes de sua primeira missão, precisamos prosseguir na evangelização, mesmo que isto nos custe sacrificar nosso repouso.

Estes dias fui convidado para fazer uma peregrinação, com tudo pago, na condição de diretor espiritual e eu respondi: “não” obrigado! Cada coração humano na missão que me foi confiada, não por meus méritos mas pela graça de Deus, constitui a Terra Santa onde preciso peregrinar. Outra coisa, me assusta contemplar pessoas que gastam muito dinheiro em “excursões religiosas” e jogam pela janela “o resto” aos pobres. Investem tempo e muito dinheiro em peregrinações e nunca foram capazes de peregrinar no coração da pessoa que está ao lado… buscam-se se as pedras e esquecem-se dos seres humanos… buscam-se os pregadores famosos e esquecem-se do Cristo nos pobres do bairro… buscam-se os que oferecem o marketing religioso e esquecem-se das comunidades simples sempre distantes dos holofotes.

Ser pastor é ser guerreiro, ser pastor é ser cordeiro – sempre pronto a dar a vida sem reclamar. Medíocres são os que pensam que os pastores são somente os bispos… sábios são os que compreendem que todo batizado têm no coração esta missão. Pastorear é cuidar. Peregrinar é ir missão rumo ao coração do outro. Ser pastor é ter a coragem e a ousadia de cantar: “meu cansaço que a outros descansem”.

Por pe. Éder Carvalho Assunção Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]
Jr23,1-6 Sl22 Ef2,13-18 Mc6,30-34

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