Chuva que cai, lava, restaura fecunda, alaga,
Rios que transbordam em bondade, pois a água nunca invade,
Matrinchã de montão, boia farta no assoalho do beiradão,
Pena que a notícia que grita no rádio, revela as vidas perdidas em montão.
Jesus chega no porto de rabetinha, num cinco velhinho que pregou lá no estirão,
Mas o pregador ali disse que o abençoado de verdade só anda de voadeirão.
O que se diz discípulo, apegado à força do motor, pra chegar boçal no banho do doutor,
Enquanto isso o Mestre, vem num jumentinho, ou melhor na rabetinha de pescador.
Enquanto uns passam novenas, campanhas e cercos pedindo prosperidade,
Jesus, o ribeirinho sofredor, pede amor e mais amor, e não um amor qualquer, mas aquele Amor de Cruz,
Mesmo sem ar e sem uti, com tantas covas pra abrir,
Sua serenidade inquieta nos mostra o caminho da ternura a seguir.
O ribeirinho adoeceu, tiram sua água, sua farinha, seu peixe, seu ar,
O lançaram na sala rosa, tudo frio, num sentimento de abandono, a saudade, a falta de ar,
O “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” clama forte,
Porém, “Meu Jesus Ribeirinho, em ti eu confio, soa mais alto ainda” num olhar estranho e cansado, de um profissional da saúde “a me cuidar”.
Semana Santa e realmente, mais do que nunca santa,
Onde o “se esvaziar”, o “se abaixar” do Jesus Ribeirinho, é meta a alcançar,
Nada é mérito, tudo é graça,
Jesus Ribeirinho, em tua canoa eu quero estar.
“Minha canoa, minha filha tá cheia de goteira,
Cada vida que vai sem cuidado, é uma nova bofetada que levo,
Cada irmão sem atenção, por causa de “irmãos” sem coração,
É um prego, grande e enferrujado, que entra em minha carne outra vez então!
Pegue minha filha, esta cuia de minha Mãe e tua Madrinha,
E este remo de meu pai e teu padrinho José,
Eu remo e tu “desgota”, as águas do Purus e as águas das lágrimas dos que sofrem,
Juntos, em solidão e silêncio, chegaremos à outra margem, onde corre farinha e peixe, que pra nós é melhor do que leite e mel.
Por Pe. Éder Carvalho Assunção
Missão Cuxiuara
Uma leitura orante da liturgia da Palavra – Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor
Mc11,1-10 / Is50,4-7 / Sl21 / Fl2,6-11 / Mc14,1-15,47