Inveja disfarçada de zelo apostólico: um veneno presente em nossas comunidades cristãs

Hoje, dirijo-me de maneira especial às comunidades cristãs. Entre nós a um veneno chamado inveja disfarçada de zelo apostólico. Este causa verdadeiros estragos no seio das comunidades, tornando-as frágeis e hipócritas. Sabemos que na história do cristianismo a grande protagonista é a Trindade de Amor. Todas as vezes que perdemos o foco e tentamos “roubar” o papel principal, restamos na idolatria e na infecundidade das devoções pessoais que abandonam o projeto comum do Reino iniciado pela força da Trindade que em Jesus de Nazaré se fez gente como a gente.

No campo teológico encontramos o mesmo contexto da primeira leitura, onde as pseudo-teologias pensam dizer tudo de Deus, deixando de ser serva  para ser juíza, monopolizado o Espírito que gera a profecia. Josué, grande líder do Povo de Deus, caiu neste pecado e infelizmente, hoje, repetimos a mesma história.

As redes sociais revelam que muitos vazem da Teologia uma serva do “deus pessoal” criado à imagem e semelhança “dos sentimentos” dos seus adeptos. O Espírito é abandonado e a teologia se torna manipulação dos conceitos sagrados, a gosto dos seus consumidores.

É neste contexto que encontramos igrejas particulares dilaceradas, que gastam suas forças em guerras teológicas, dividindo-se entre rótulos teológicos (tradicionalistas, progressistas, libertadores etc) e o pior, um infantilismo que impede a Igreja de Profetizar, pois em vez de Profetizar em Nome de Deus, muitos se encontram cansados de Brigar em Nome de Deus, em defesa de suas teologias.

O pontificado de Francisco revela uma igreja em crise, onde uma grande parte do clero e do episcopado rezam pela chegada de um novo papa. Pois Francisco, em seus discursos, oscila entre uma igreja progressista e ao mesmo tempo profundamente dogmática, ou seja, alguém capaz de profetizar, pois é livre para falar à partir da própria vida.

Muitos Josués com suas estolas e mitras, não aguentam seu discurso e até mesmo questionam se ele “fala inspirado pelo Espírito Santo”. Francisco nos ajuda a compreender que a experiência de Deus é fundamental na construção do discurso teológico, sem isso, ela se torna apenas uma ciência da religião. O teólogo antes de falar de Deus ele precisa se encontrar com o Sagrado e, no silêncio escutar as palavras anteriores do próprio de Deus.

No campo pastoral encontramos uma diversidade no coração da igreja: associações, movimentos, serviços, equipes etc. Tudo isso é um grande dom. Porém, quando um órgão não se contenta em ser órgão e deseja ser o cérebro… quando um ator coadjuvante deseja a todo preço ser o ator principal… estes órgãos ficam doentes e como um câncer, podendo causar uma metástase e assim, uma falência múltiplas dos órgãos.

Os mesmos discípulos que na semana passada foram tomados pelo desejo do poder agora se entregam a inveja, pois pensam que só os que estão próximos de Jesus podem realizar exorcismos, ou seja, libertar as pessoas e as comunidades. É por isso que Jesus é radical, ele nos manda amputar os “órgãos que nos levam a pecar”. Claro que aqui nós fazemos uma leitura existencial, onde cada pessoa, cada comunidade é convidada à podar-se para frutificar num futuro próximo.

Todas pessoa ou comunidade que não se realiza em Deus tende a ser invejosa, pois esta, nada mais é que fruto da imaturidade e das crises afetivas espirituais. Saber aceitar as diferentes iniciativas dentro da igreja como dom é uma grande graça. Quando vejo a outra pessoa, ou um outro grupo, como concorrente ou inimigo, é sinal que aquele que divide tem reinado na minha vida na minha história. Neste caso, mais que evitar que outros façam exorcismos… sou eu que preciso ser exorcizado. 

São Vicente nos dizia: “quando estiveres em oração e um pobre bater à porta, levante-se imediatamente e vai atender seu superior”. Creio que esta frase expressa bem o espírito da segunda leitura e pode ser o remédio para a cura das mazelas teológicas e pastorais de nossas igrejas particulares, e também, um remédio para os membros do clero e do episcopado que se fazem de surdo diante da Profecia e do Exorcismos do papa Francisco, pois quando nossas estolas e mitras não têm o cheiro dos pobres… é porque elas estão carcomidas pelas traças da hipocrisia, da inveja e  do carreirismo eclesiástico.

Uma leitura orante da liturgia dominical 

26º Domingo do Tempo Comum – 27/09/2015

Mc 9,38-43.45.47-48 / Nm 11,25-29 / Sl 18 / Tg 5,1-6

Por pe. Éder Carvalho Assunção.

Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África

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