“Eu sou a ressurreição e a vida”

(…) A amizade foi ponto de partida para um relacionamento profundo estabelecido entre a família, Jesus e seus discípulos. Nosso encontro com o Senhor pode também partir de coisas simples, de diálogos em que a vida, o serviço, os dramas familiares, as questões ligadas ao trabalho, ou o simples bate-papo pode ser início do aprofundamento do sentido da vida, para sermos então conduzidos ao Senhor. Não se jogue fora qualquer oportunidade para lançar sobre pessoas e fatos a luz do Evangelho, para chegar à confissão de Jesus como Ressurreição e Vida.

As notícias correm! Jesus ficou sabendo da situação de Lázaro, com o qual tinha um relacionamento sincero e profundo. O Senhor sabe que a glória de Deus se manifestará. Vive cada momento com dignidade e seriedade, sem precipitações, sabendo a hora de tomar as decisões. Seus discípulos de ontem e de hoje aprendem com o Mestre o caminho do discernimento, fundamental para que os acontecimentos não se precipitem. Hão de repetir muitas vezes, com o Tomé da decisão, mais do que o homem da dúvida: “Vamos também nós, para morrermos com ele” (Jo 11,16). Será uma história muitas vezes tensa, cheia de crises, idas e vindas, quedas e soerguimento. É muito bom fazer esta estrada, sabendo que nunca estaremos sozinhos para chegar à Ressurreição e à Vida.

Chegados com Jesus e seus discípulos a Betânia, nós também estamos em casa de pobres, o que significa este nome. Recolhemos todo o luto e o drama que significa a morte, sejam quais forem as circunstâncias. Os costumes da época, com carpideiras a clamar, ou mesmo os velórios de todos os tipos de nosso tempo, enfeitados ou maquiados, ou quem sabe os fornos crematórios postos em moda, mas morte é morte! Um dia, seremos desafiados a chamá-la irmã, com São Francisco, ou nos tornarmos os mais dignos de dó (Cf. I Cor 15, 12-26), por sermos homens e mulheres sem esperança. O cristão entra de cabeça e coração nas situações humanas, não usa subterfúgios para explicá-las, gosta da verdade e as enfrenta com honestidade. Choro e lágrimas não fazem mal a ninguém! O que faz mal é enrolar a nós mesmos e aos outros. Nesta estrada da verdade, chegaremos à Ressurreição e à vida plena.

O Evangelho de São João nos conduz pelas mãos, para aprender de Jesus. Ele consola as duas irmãs, ouve seus lamentos, chora com elas, provoca a profissão de fé, que precede o milagre! Jesus identifica em Marta a fé na ressurreição e a conduz a professar sua fé atualizada naquele que é Ressurreição e Vida. Queremos também nós recolher as sementes da fé que são o fruto da graça recebida no Batismo, tantas vezes guardada e não praticada. Mas ela está dentro de cada homem e de cada mulher que recebeu o Sacramento. Nasce um convite renovado a tantas pessoas que se esqueceram, por muitos e variados motivos, da graça recebida. Pode ser esta a hora da graça.

Jesus é Mestre, Catequista, Senhor e Irmão! Duas vezes chorou, comovendo-se interiormente. Deus, sim, mas Homem verdadeiro, com sensibilidade apurada. Vamos com Ele a todos os sepulcros! Mesmo diante das situações nas quais a morte do corpo e da alma dá sinais de putrefação – “Já cheira mal, é o quarto dia” (Jo 11, 39), soa a hora da esperança. Não há pedra de sepulcro ou sentença de condenação que resistam àquele que é Ressurreição e Vida. Chegue a todos os ouvidos o convite: “O Mestre está aqui e te chama” (Jo 11, 28). Que o Senhor ressuscitado grite a todos os homens e mulheres que saiam de sua inércia e se deixem desamarrar pela ação da Igreja, para conhecerem aquele que é a Ressurreição e a Vida.

Trecho do artigo de Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará

Fonte: CNBB

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