“A nós descei Divina Luz, em nossas almas acendei o amor, o amor de Jesus”. Assim canta o povo simples que confia no Defensor, no Consolador. Com alegria celebramos a Páscoa de Jesus com um coração pleno da ternura do Espírito que nos faz recordar o Amor Jesus Cristo, vivo e ressuscitado “no meio de nós”.
Espírito derramado, Deus doado e partilhado na humildade, “presencializado” na gratuidade. Hóspede que habita e ilumina as mais profundas tenebrosas incoerências da existência.“Fecundador” e restaurador do essencial, daquilo que não pode faltar.
Portanto, contemplamos a presença do Mistério que por Jesus Cristo habita no coração humano pela graça, pelo dom total e sem igual, do Espírito Santo, “Deus mesmo” no mais profundo do ser.
Para celebrar dignamente esta solenidade de Pentecostes, confiamos ao Espírito a missão de protagonizar a leitura orante dos textos litúrgicos da Vigília e da Missa do Dia. Que a Palavra atualizada em nós pelo próprio Espírito nos guie neste momento de oração. Prosseguimos com as recordações do Espírito:
- Unir: quando nos deixamos levar pela sede de poder somos tomados por um espírito diabólico, que divide e confunde. Em vez da união com Deus escolher-se a soberba e a idolatria (cf. Gn11,4). Para vencer a Babel que existe em nós precisamos dos laços do Espírito que nos une ao Sagrado, que muda a confusão em união de almas e a sede de poder em afeto filial.
- Adotar: o Espírito atualiza a Aliança feita com Moisés (cf19,6). O sentimento de paternidade que Deus dispensou para com seu amado povo nos ajuda também no processo de “adoção” e aceitação desse amor no hoje de nossa história.
- Renovar: os ossos ressequidos que agora tomam vida são imagem da ação do Espírito que tudo renova e restaura (cf.Ez37,5-6). Voltar à vida, restaurar a dignidade, reencontrar o essencial, tudo isso é dom e não dever ser desperdiçado.
- Profetizar: uma vez derramado, o Espírito Santo age e fala em seus ungidos. A utopia é restaurada, os sonhos são palpáveis, as visões se tornam realidade (cf.Jl3,1-2). Tudo que é fecundado na alma se concretiza na beleza do ser.
- Bendizer: o Espírito também se encarrega de louvar em nós. O nome de Deus é bendito na moção do Espírito (cf.Sl103). O louvor se torna natural, próprio de quem ama.
- Orar: oração, intercessão, alegria, dança, festa… tudo isso é manifestação do Espírito que ora em nós (Rm8,26-27). Ele é o pedagogo, o maestro que rege a sinfonia do Encontro com o Sagrado.
- Saciar: tudo se dá em abundância, tudo se torna fonte de vida. A aridez não encontra mais espaço, a mesquinhez desaparece. No Espírito tudo é abundante (cf.Jo7,37-38). Uma vez saciados nos tornamos “saciadores” na “arte do amar e ser amado” em Cristo Jesus.
- Reunir: congregar na unidade da diversidade. Aquilo que é plural se torna “um” no Espírito, sem perca de identidade (At2,4). A dispersão se torna desafio e o desejo de ser “uma só família humana em Cristo” inspira a missão.
- Partilhar: fecundados no Espírito, sentimos em nós, o despertar do perfume de Deus: os carismas. Estes não são sufocadas e sim, partilhados no exercício dos ministérios confiados (1Cor12,4-5).
- Pertencer: a comunhão de alma é a marca do Espírito. A unção consagra e eterniza a identidade filial (Rm8). Uma vez tomados pelo sentimento de pertença, nada mais pode nos separar. A aliança do amor é indissolúvel.
- Pacificar: o shalon anunciado pelo Cristo é vivenciado na força do Espírito. Mesmo em meio as “guerras” o coração daquele que ama, continua sereno e pacífico. Tribulações balançam, porém não são capazes de tombar aqueles de se deixam conduzir pelo Espírito do Ressuscitado. As marcas da Paixão são sacramentadas na Missão que prega a Misericórdia e a Reconciliação (cf.Jo20,20).
- Defender: enfim, contemplamos mais uma vez o Espírito que nos defende na arte de “guardar e permanecer” na Palavra do Amado. Permanecer no sentido de “continuar existindo em Deus”. Os ataques são muitos, as lutas são diárias, as armadilhas estão armadas, porém, quando deixamos o Espírito ser o protagonista de nossa história, encontraremos sempre a graça da superação, ou melhor, da ressurreição.
Que a sequência desta solenidade seja hoje nossa oração.
1 – Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.
2 – Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor, descanso, na aflição, remanso, no calor, aragem.
3 – Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!
Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
4 – Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
5 – Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.
Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna. Amém!
Por pe. Éder Carvalho Assunção Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África [email protected]
Leitura para a Vigília de Pentecostes
Primeira Leitura Gn 11,1-9
Responsório Sl 112
Segunda Leitura Rm 8,22-27
Evangelho Jo 7,37-39
Leituras do Dia
1ª Leitura – At 2,1-11
Salmo – Sl 103, 1ab.24ac.29bc-30 31.34 (R.30)
2ª Leitura – 1Cor 12,3b-7.12-13
Evangelho – Jo 20,19-23
Leituras Facultativas
2ª Leitura – Rm 8,8-17
Evangelho – Jo 14,15-16.23b-26