Aparecida: a maternidade como profecia

Recordando. Fonte pom.org
Por Éder Carvalho Assunção *
12 / Out / 2014

“Eles não tem mais vinho!” Como a sensibilidade de uma mulher “toca” a Divina Sensibilidade? Assim é Caná, assim é o Reino. Mesmo sem precisar, Deus “quis precisar” da colaboração humana no processo da Redenção… por isso Ele se fez um de nós, gente como a gente!

Quando contemplamos hoje a festa de Nossa Senhora Aparecida, mãe e rainha do povo brasileiro, percebemos a importância da sensibilidade da “mulher” como colaboradora e protagonista na história da salvação. Deus nunca fez distinção de gênero.

Aparece Negra
Aparecida nas águas do Rio Paraíba em 1773 a pescadores, homens simples – Domingos, João e Felipe –  a imagem da Imaculada Conceição, revela o que Deus fez e faz em nós: Maravilhas! Tempos difíceis, tempo de escravidão, onde o povo sofria com a colonização, o Brasil era visto como um quintal de Portugal, neste contexto, a imagem “aparece negra”, como sinal profético diante do maior país escravocrata da história da humanidade.

Milhões de escravizados, que após o “banzo” da travessia do Atlântico eram analisados os dentes e a força-beleza física e vendidos como “peças” e imediatamente “batizados”. A que ponto chegamos? Que vergonha para a história da cristandade luso-brasileira!

Uma Rainha que se veste diferente
Como a rainha Ester, Nossa Senhora se revestiu de “negra” para mostrar o Reino de seu Filho. Ela apenas pediu “a vida de seu povo”. Já em Guadalupe ela se fez indígena e agora ela se faz negra nas mãos dos pobres. A devoção, hoje dirigida pelo episcopado e pelo clero, não surgiu na “pompa dos palácios episcopais, revestidos muitas vezes do cetro de ouro” mas, no oratório do pescador.

O salmista hoje cantou, que o “Rei se encante com vossa beleza”. Imagine o quanto este mundo gira: hoje o catolicismo brasileiro utiliza a devoção a Aparecida como Marketing de Evangelização… a América Latina e Caribe, da mesma forma utiliza Guadalupe neste processo… porém, enquanto Maria, a Mulher Bíblica, mostrava sua face índia e negra, a cristandade perseguia a Pajelança Indígena e os Orixás Sagrados, por isso, os excluídos eclesiais e sociais daquela época, se aproximavam de Deus através do carinho da Mãe que tem o seu rosto: indígena e negro. Se a Imaculada veio branca, as águas penitenciais e batismais do Paraíba se encarregaram de dar a Negritude tão necessária. O que vem a memória? A imagem do Cristo Negro – que Ariano Suassuna nos presenteou no Alto da Compadecida – e sua alegria por ver agora sua Mãe Negra encarnada-inculturada em sua opção: a opção preferencial pelos pobres. Ainda hoje, milhões de pessoas que não tem “vida eclesial ordinária” rumam a Aparecida, pois nesta devoção encontro o aconchego que não encontram muitas vezes no catolicismo moderno: frio e rigorista. As palavras são um nada diante daquilo que se vivencia ao passar diante da pequena imagem de Aparecida.

Uma Rainha, pobre e perseguida: A Igreja fiel ao Reino
Nossa Senhora, portanto, é imagem e símbolo da Igreja. Ela deu a Luz ao Autor da Luz e por isso, a espada de dor a transpassou, e a perseguição apocalíptica continua nos cristão que hoje são perseguidos por causa do Anúncio do Reino. Na perseguição, a “terra veio em socorro da mulher”, esta mulher, que é a Igreja-Humanidade, perseguida pelo Dragão que promove a fome, a guerra e todos os sofrimentos desnecessários. Imaginem a dor dos cristãos que são agora perseguidos pelo fundamentalismo islâmico no Oriente Médio… imaginem a dor dos povos medievais perseguidos e massacrados pelo fundamentalismo da cristandade.

Aparecida Cristocêntrica
Aparecida é Cristocêntrica. Onde falta o vinho da alegria, ela nos lembra: fazei tudo o que Ele vos disser. E o que Ele nos diz: Pai Nosso… Pão Nosso… amem e sejam amados!

Daqui do Corno da África, numa das regiões mais empobrecidas do mundo, sinto o cheiro da fome, vejo o “banzo existencial” dos não contados economicamente, contemplamos a hipocrisia dos “Ricos Países Cristãos” que tem medo do Ebola, não pelo povo Africano, mas pela autodefesa e pelo seu “bem estar” e são indiferentes à fome, pois esta não “contagia”. Aqueles que hoje morrem de fome não serão notícia. Por isso, que imagem Negra de Aparecida é atual e inquietante. Transformemos a “água da purificação no vinho da alegria”: medíocres são aqueles que passam sua vida religiosa apenas na água da purificação e não se transformar no vinho da alegria na missão de ser-para-o-outro.

Aparecida  e Francisco
Francisco, nosso papa inculturado, que nos ensina a ter o cheiro das ovelhas, já demonstrou que é devoto de Aparecida, como simples pescador. Que a Negra Terna Maternidade interceda ao seu Filho, para que Francisco de todos os povos, cumpra sua missão de colaborador do Espírito na tão-urgente-necessária Renovação da Igreja!

Avante, que a exemplo de Nossa Senhora, sejamos capazes de tornar para o outro neste mês missionário, a vocação-imagem que o Reino exige de nós!

* Pe. Éder Carvalho Assunção Missionário da Prelazia de Lábrea no Corno da África (AM).

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